Neuroses
O termo neurose designa um conjunto de manifestações psíquicas caracterizadas por conflitos inconscientes que geram sofrimento e comprometem, em maior ou menor grau, a adaptação do indivíduo à realidade. Diferente das psicoses, nas quais há uma ruptura com o real, nas neuroses o sujeito mantém o contato com a realidade, mas vive em constante conflito entre seus desejos inconscientes e as exigências morais e sociais que internalizou.
A psicanálise, desde Sigmund Freud, foi a principal teoria responsável por compreender e sistematizar o conceito de neurose. Freud observou que muitos sintomas físicos sem causa orgânica tinham origem em conflitos psíquicos reprimidos. Esses conteúdos, recalcados no inconsciente, retornavam de forma disfarçada em sintomas, sonhos, atos falhos e lapsos de memória. Assim, a neurose é resultado de um conflito entre o desejo e a repressão, ou entre o “id” (as pulsões instintivas) e o “superego” (as normas e valores internalizados).
Freud descreveu três principais formas de neurose: histeria, neurose obsessiva e neurose fóbica.
Na histeria, o conflito psíquico é expresso através do corpo ou de sintomas simbólicos, como paralisias, desmaios ou dores sem causa médica. O sujeito histérico tende a viver intensamente as emoções e busca, de modo inconsciente, a atenção e o reconhecimento do outro. Seu sofrimento está ligado à dificuldade de lidar com o desejo e à necessidade constante de amor e validação.
A neurose obsessiva, por sua vez, é marcada por pensamentos repetitivos, rituais mentais ou comportamentais e um sentimento de culpa intenso. O sujeito obsessivo tenta controlar seus impulsos e emoções por meio da razão, da ordem e da repetição, buscando alívio da ansiedade por meio de rituais ou pensamentos compulsivos. Essa estrutura revela um conflito entre o desejo inconsciente e a necessidade de controle moral.
Já a neurose fóbica tem como característica principal o medo exagerado diante de objetos, situações ou contextos específicos. A fobia funciona como um mecanismo de defesa, deslocando a angústia inconsciente para um elemento externo que simboliza o conflito interno. Assim, o sujeito evita o objeto fóbico como forma de evitar o enfrentamento de seu próprio desejo reprimido.
Em termos gerais, a neurose se estrutura sobre o mecanismo de recalque, ou seja, o afastamento dos conteúdos inaceitáveis da consciência. No entanto, esses conteúdos retornam simbolicamente, produzindo sintomas e comportamentos que expressam o conflito psíquico. O tratamento psicanalítico busca justamente permitir que o sujeito tome consciência desses conflitos, ressignificando-os e reduzindo o sofrimento.
Do ponto de vista clínico, as neuroses revelam a complexidade do funcionamento humano e mostram que o sofrimento psíquico não é apenas uma doença, mas uma forma de expressão do inconsciente. O trabalho terapêutico, portanto, consiste em favorecer a escuta e a elaboração simbólica desses conflitos, permitindo que o sujeito compreenda o sentido de seus sintomas e encontre novas formas de lidar com o desejo, a culpa e a angústia.
