O musicoterapeuta e o fonoaudiólogo no tratamento do TEA
O tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) exige uma abordagem interdisciplinar que considere a complexidade dos aspectos comunicativos, sensoriais, emocionais e comportamentais envolvidos. Nesse contexto, a atuação integrada entre o musicoterapeuta e o fonoaudiólogo tem se mostrado uma parceria especialmente eficiente, capaz de potencializar o desenvolvimento da comunicação, da interação social e da autorregulação de crianças, jovens e adultos autistas.
A música, por ser um canal expressivo natural, e a fonoaudiologia, por atuar na base da linguagem e da comunicação humana, se complementam de forma orgânica, oferecendo ao paciente um conjunto de estímulos integrados que favorecem a aquisição e o fortalecimento das habilidades comunicativas.
A Contribuição do Musicoterapeuta
O musicoterapeuta trabalha a partir de experiências musicais — improvisação, canções, jogos musicais, instrumentos e movimento — criando um ambiente seguro e motivador, especialmente valioso para indivíduos com TEA. Suas intervenções favorecem:
- Atenção compartilhada
- Imitação e troca social
- Regulação sensorial e emocional
- Organização rítmica da fala
- Expansão da comunicação não verbal e vocal
- Engajamento motivacional, essencial para manter o paciente ativo no processo terapêutico
A música possibilita que o indivíduo se comunique mesmo antes da habilidade verbal estar presente, o que abre portas para outras modalidades terapêuticas, especialmente a fonoaudiologia.
A Contribuição do Fonoaudiólogo
O fonoaudiólogo atua diretamente no desenvolvimento da comunicação verbal e não verbal, na ampliação das competências linguísticas e na organização dos processos motores da fala. No tratamento do TEA, esse profissional trabalha com:
- Desenvolvimento da linguagem receptiva e expressiva
- Trabalhos de articulação, prosódia e fluência
- Estimulação da comunicação funcional
- Uso de sistemas alternativos e suplementares de comunicação (CAA)
- Ampliação do repertório comunicativo e social
A fonoaudiologia dá estrutura técnica àquilo que emerge espontaneamente na musicoterapia, transformando vocalizações, gestos e tentativas comunicativas em fala organizada e funcional.
Como as Duas Áreas se Complementam
A integração entre musicoterapia e fonoaudiologia não significa sobreposição de funções, mas sim diálogo constante. A música facilita aspectos fundamentais para que o trabalho fonoaudiológico aconteça de maneira mais eficaz. Alguns pontos de complementaridade incluem:
1. Ritmo e Prosódia
A música oferece suporte rítmico e melódico que facilita a produção verbal.
A fonoaudiologia transforma esse suporte em fala clara, compreensível e funcional.
2. Motivação e Vínculo
A música é altamente motivadora, ajudando a reduzir resistência e ansiedade.
O fonoaudiólogo aproveita essa motivação para expandir objetivos linguísticos mais complexos.
3. Comunicação Pré-Verbal
O musicoterapeuta trabalha sons corporais, vocalizações e gestos musicais.
O fonoaudiólogo utiliza essas bases para desenvolver intenção comunicativa e linguagem.
4. Regulação Sensorial
A música organiza e regula o processamento sensorial.
Com o paciente regulado, o trabalho fonoterápico se torna mais produtivo.
5. Transição do Canto para a Fala
Canções estruturadas facilitam a emissão vocal.
A fonoaudiologia transforma essa emissão em linguagem oral, ampliando vocabulário e fluência.
A Importância da Interdisciplinaridade
A parceria musicoterapia–fonoaudiologia fortalece toda a equipe de intervenção no TEA, pois:
- promove continuidade terapêutica entre sessões;
- evita duplicidade de objetivos;
- amplia o olhar clínico sobre cada paciente;
- potencializa resultados em menor tempo;
- respeita a singularidade e o estilo de processamento sensorial-comunicativo de cada indivíduo.
Quando os dois profissionais compartilham informações, objetivos e estratégias, o tratamento se torna mais coerente e profundamente humanizado.
Conclusão
A atuação integrada entre o musicoterapeuta e o fonoaudiólogo no tratamento do TEA representa uma combinação poderosa: a música abre caminhos para a comunicação, enquanto a fonoaudiologia estrutura e fortalece essa comunicação de forma funcional. Juntas, essas áreas constroem uma rede terapêutica capaz de favorecer desenvolvimento, autonomia, vínculo e qualidade de vida para pessoas autistas e suas famílias.
